O túmulo está vazio: Enfim, triunfa o sorriso!

Por Hermes de Abreu Fernandes

Enfim, Páscoa. Celebramos no domingo que passou a vitória de Cristo sobre a morte. “Oh, morte, onde está tua vitória?” (1Cor 15,55). Jesus foi acusado injustamente. Condenado por uma conspiração. Assassinado pela vergonha da cruz. Sepultado em um túmulo emprestado. Ele, que disse ser vida plena (cf Jo 11,25), morreu. Tudo parecia acabado naquela noite de sexta feira. A manhã de sábado era só lágrimas. Até que houve mais uma noite e, ao raiar do dia, o túmulo não guardava o fracasso pela morte. Testemunhava a vitória da Vida (cf Jo 20,1-10).

A experiência da primeira testemunha da ressurreição, aquela santa mulher, deve ser a nossa. Deixarmo-nos extasiar com a boa surpresa. Afinal, Jesus disse muito sobre bem aventurança. “Felizes dos que choram, porque serão consolados” (Mt 5,4). Aqueles homens e mulheres, companheiros primeiros de Jesus, choravam a tristeza pela morte do mestre. Do amigo. Agora, nesta manhã domingueira, são lágrimas de felicidade. A morte não foi o fim. Ele, o amado, ressuscitou (cf Lc 24,6a). Oh, alegria incomparável! A vida venceu a morte. Não seguiram um fracasso. Encontraram o messias. Verdadeiro, não mito. Afinal, nem a morte ofuscou o brilho de sua missão. Como havia prometido, ressuscitou (Lc 24,6b).

Hoje, a Igreja de Jesus pode se dizer em trevas. Encerrada sob a pesada pedra à porta do túmulo. Este que se nos representa morte. Silêncio. Não cansamos de contar nossos mortos. Sepultados silenciosamente. Sem direito à despedida. Covid-19: o flagelo da esperança. Retém-nos longe de nossos entes queridos. Isolamento social. Mata impiedosamente aqueles que, mesmo com devidos cuidados, são tocados por este mal. São lágrimas a serem vertidas. Por que não prantear? Não é falta de esperança. Os discípulos viveram isso ao perder Jesus. Não obstante ter testemunhado que, ele mesmo, havia trazido mortos à vida (cf Jo 11,1-45). A dor não se explica. Sente-se, como nos disse um dia Luiz Vaz de Camões. Choramos todos nossos mortos, assim como os discípulos de Jesus choraram-no. Voltamos nossos olhos aos muitos túmulos. Jazigos que guardam pedacinhos de nosso amor.

Voltemos, mais uma vez, os olhos para Maria. Às portas do sepulcro. Ao chegar diante do túmulo, ainda madrugada, viu que a pedra foi removida (cf Jo 20,1). As pedras do sepulcro diante de Madalena, as pedras de nossos sepulcros hoje. Dolorosa correlação. Nestes tempos de pandemia, somos tentados à desesperança. Nossa alegria foi trancafiada? Sepultados nossos sonhos? Temos dificuldades de compreender o sofrimento. Também o tiveram os primeiros discípulos. Lembremo-nos da tarde daquele domingo, quando Jesus aparece aos discípulos (cf Jo 20,19). Encontra-os reunidos de portas trancadas. Corações atribulados. Medo, incertezas muitas. Ele, o ressuscitado, diz: “A paz esteja convosco!” (Jo 20,19b).

Como esperamos paz! Estamos carentes dela. Assim como os discípulos, estamos acabrunhados pelo significado da morte. Eles viram o messias deixá-los por morte violenta. Vemos, todos os dias, nossos irmãos e irmãs nos deixarem. Morte por uma doença que poderia matar menos. Se, assim como nos poderes do tempo de Jesus, conspirações e mentiras não estivessem acima do bem de todos. Preferem a morte de uns, pelo bem de seus interesses obscuros. Aconteceu com Jesus (cf Jo 11,49-51). Acontece-nos agora. Muitos morrem, para que as políticas de morte, corrupção, sucateamento das políticas públicas, sonegação de Direitos; possam persistir.

Maria vê o sepulcro vazio. Não mais vazia é sua esperança. Carecemos deste alento. Tão belo foi aquele domingo. Que possamos deslumbrar esta beleza em nossos dias. Que a ressurreição de Cristo seja nossa ressurreição das cruzes existenciais. Cruzes da desigualdade, do abandono, dos discursos de ódio, das injustiças todas. Assim como Jesus foi morto sob a condenação de dois poderes, que os poderes que usam da pedagogia de morte, não nos toque. Chega de mortes! Chega de lágrimas! Chega de enganar nosso povo com mentiras! Chega de desgovernar, matando, por omissão e covardia, milhares a cada dia.

Jesus é o Senhor da Vida. Que a Igreja de Jesus não se cale diante da morte. Deve anunciar a Páscoa de Jesus. O triunfo da vida sobre a morte. Nossa Páscoa! O renascer de nossa esperança. Com Zé Vicente, possamos cantar: “Irá chegar um novo dia”. Canto de esperança. De Páscoa! Certeza de ressurreição. Que seja enxugado nosso pranto! Possa, ao amanhecer de nossos dias, enfim, triunfar o sorriso. A Vida.

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